Os ópios do povo
[1] A pobreza altense:
Se eu fosse de Alte, ficaria preocupado. A minha terra estaria em terras serranas, teria fracos recursos e viveria de uma agricultura de subsistência.
Para me contentar, teria apenas uma igreja como a referência histórica mais antiga e uma rocha dos Soidos que em tempos serviu para alguma coisa: encaminhar os navegantes...
Bem, também teria a Fonte Grande, as chaminés rendilhadas, o 1º de Maio e já me daria por satisfeito. Como a mentira também ajuda a sobreviver, encher-me-ia de orgulho saloio, por saber que a minha aldeia já foi considerada a mais típica de Portugal. Não sei o que é típica, mas não faz mal.
Devem julgar que estou a brincar, mas não. Se não gostasse de Alte, não escreveria assim. Mas são estas as palavras que me escorrem no computador depois de ter acedido ao link para a freguesia de Alte, a partir do site da Câmara Municipal de Loulé – www.cm-loule.pt
Quando li, nem queria acreditar em tanta miséria franciscana. Aliás, o site, até de forma sobranceira, proíbe qualquer alteração aos textos, como se os escritos tivessem algum valor científico. Melhor seria apagá-los de imediato e inserir novos textos de forma séria, para não publicitar os erros.
Depois de um ano em que os altenses comemoraram, de forma participativa, o centenário de José Vieira, com um conjunto de iniciativas que faz jus ao trabalho daquele patriarca, o texto do site sobre Alte é uma ofensa! Depois de todas as iniciativas em prol do desenvolvimento local, levado a cabo por autarquias, associações, privados e pessoas singulares, este texto acaba por envergonhar, porque pobre, insípido, ignorante.
Para o corrigir basta ler a obra científica mais insuspeita e clarificadora editada sobre a aldeia: “Alte, na Roda do Tempo”, de Isabel Raposo. Quem não lê, não deve escrever sobre o que não sabe!
[2] A Escola do Serradinho
No dia 19 de Maio, a Escola do Ensino Básico [EB1, nº 1 de Loulé], conhecida como a Escola do Serradinho, foi baptizada. Passou a ter um nome, o nome da Padroeira de Loulé, Mãe Soberana. Não tem nada de mais atribuir nome a uma escola. O que tem de mais é confundir alhos com bugalhos, quero dizer, confundir um equipamento laico – uma escola – com um símbolo do foro religioso. Ademais o nome é discriminatório, já que a comunidade escolar, que nela se movimenta, assume várias escolhas religiosas: uma maioria será católica, outros de confissões religiosas diversas, outros ainda agnósticos.
Como sabemos a nossa Constituição é mais democrática que esta decisão; a nossa Lei fundamental consagra não só a liberdade religiosa, como também a separação entre estado e igreja. Aliás esta é uma das grandes conquistas da Revolução Francesa e um dos pilares estruturais da democracia. Ou será que já esqueceram isto?
Por outro lado, a atribuição de nomes a escolas, ruas, praças, ou outros equipamentos, está sujeita a critérios normativos, que devem ser pesados por quem sabe do assunto. [Por favor leiam António Valdemar, no «Diário de Notícias» e perceberão o que afirmo]. No caso da Escola do Serradinho, quem foi ouvido? Como pai de um aluno, que irá estar 4 anos na escola, teria gostado de dar opinião e não ser convidado a apadrinhar um facto consumado. Por isso, para mim – e tenho a certeza que para os louletanos – esta escola continuará a ser conhecida popularmente como a Escola do Serradinho e apenas nos documentos oficiais ostentará o seu novel nome.
Entretanto, a partir de agora, o precedente fica aberto. Talvez se possa passar a dar a romarias, igrejas e ermidas os nomes laicos dos homens e mulheres das letras desta terra e aí teremos: Ermida de D. Lídia Jorge; Igreja de S. Casimiro de Brito; Festa de D. António Aleixo.
Parece que estou a brincar com coisas sérias, mas não estou mesmo!
[3] Hermano Soberano
Há dias, na RTP2, no arcaico programa «A alma e a gente» José Hermano Saraiva falou de Loulé e da sua Mãe Soberana. Não teve pejo em chamar ignorantes (duas vezes) aos louletanos e a todos aqueles que não reconhecem o valor simbólico do culto mariano.
Depois, para se armar, - este homem que nada de novo trouxe à história, e à forma de a fazer – informa os ignorantes de que afinal o culto da Mãe Soberana não é de Loulé, tendo afinal origem em Faro, na capital, pois claro! Que viva a douta ignorância!
Se eu fosse de Alte, ficaria preocupado. A minha terra estaria em terras serranas, teria fracos recursos e viveria de uma agricultura de subsistência.
Para me contentar, teria apenas uma igreja como a referência histórica mais antiga e uma rocha dos Soidos que em tempos serviu para alguma coisa: encaminhar os navegantes...
Bem, também teria a Fonte Grande, as chaminés rendilhadas, o 1º de Maio e já me daria por satisfeito. Como a mentira também ajuda a sobreviver, encher-me-ia de orgulho saloio, por saber que a minha aldeia já foi considerada a mais típica de Portugal. Não sei o que é típica, mas não faz mal.
Devem julgar que estou a brincar, mas não. Se não gostasse de Alte, não escreveria assim. Mas são estas as palavras que me escorrem no computador depois de ter acedido ao link para a freguesia de Alte, a partir do site da Câmara Municipal de Loulé – www.cm-loule.pt
Quando li, nem queria acreditar em tanta miséria franciscana. Aliás, o site, até de forma sobranceira, proíbe qualquer alteração aos textos, como se os escritos tivessem algum valor científico. Melhor seria apagá-los de imediato e inserir novos textos de forma séria, para não publicitar os erros.
Depois de um ano em que os altenses comemoraram, de forma participativa, o centenário de José Vieira, com um conjunto de iniciativas que faz jus ao trabalho daquele patriarca, o texto do site sobre Alte é uma ofensa! Depois de todas as iniciativas em prol do desenvolvimento local, levado a cabo por autarquias, associações, privados e pessoas singulares, este texto acaba por envergonhar, porque pobre, insípido, ignorante.
Para o corrigir basta ler a obra científica mais insuspeita e clarificadora editada sobre a aldeia: “Alte, na Roda do Tempo”, de Isabel Raposo. Quem não lê, não deve escrever sobre o que não sabe!
[2] A Escola do Serradinho
No dia 19 de Maio, a Escola do Ensino Básico [EB1, nº 1 de Loulé], conhecida como a Escola do Serradinho, foi baptizada. Passou a ter um nome, o nome da Padroeira de Loulé, Mãe Soberana. Não tem nada de mais atribuir nome a uma escola. O que tem de mais é confundir alhos com bugalhos, quero dizer, confundir um equipamento laico – uma escola – com um símbolo do foro religioso. Ademais o nome é discriminatório, já que a comunidade escolar, que nela se movimenta, assume várias escolhas religiosas: uma maioria será católica, outros de confissões religiosas diversas, outros ainda agnósticos.
Como sabemos a nossa Constituição é mais democrática que esta decisão; a nossa Lei fundamental consagra não só a liberdade religiosa, como também a separação entre estado e igreja. Aliás esta é uma das grandes conquistas da Revolução Francesa e um dos pilares estruturais da democracia. Ou será que já esqueceram isto?
Por outro lado, a atribuição de nomes a escolas, ruas, praças, ou outros equipamentos, está sujeita a critérios normativos, que devem ser pesados por quem sabe do assunto. [Por favor leiam António Valdemar, no «Diário de Notícias» e perceberão o que afirmo]. No caso da Escola do Serradinho, quem foi ouvido? Como pai de um aluno, que irá estar 4 anos na escola, teria gostado de dar opinião e não ser convidado a apadrinhar um facto consumado. Por isso, para mim – e tenho a certeza que para os louletanos – esta escola continuará a ser conhecida popularmente como a Escola do Serradinho e apenas nos documentos oficiais ostentará o seu novel nome.
Entretanto, a partir de agora, o precedente fica aberto. Talvez se possa passar a dar a romarias, igrejas e ermidas os nomes laicos dos homens e mulheres das letras desta terra e aí teremos: Ermida de D. Lídia Jorge; Igreja de S. Casimiro de Brito; Festa de D. António Aleixo.
Parece que estou a brincar com coisas sérias, mas não estou mesmo!
[3] Hermano Soberano
Há dias, na RTP2, no arcaico programa «A alma e a gente» José Hermano Saraiva falou de Loulé e da sua Mãe Soberana. Não teve pejo em chamar ignorantes (duas vezes) aos louletanos e a todos aqueles que não reconhecem o valor simbólico do culto mariano.
Depois, para se armar, - este homem que nada de novo trouxe à história, e à forma de a fazer – informa os ignorantes de que afinal o culto da Mãe Soberana não é de Loulé, tendo afinal origem em Faro, na capital, pois claro! Que viva a douta ignorância!
[coluna de 15 junho 04]