Teixeira Gomes e a Capital da Cultura
Há dias conversava com um amigo sobre as suas recentes leituras. Dizia-me ele – que organiza as suas leituras melhor do que as suas aulas – que nos últimos dias andou a ler os poetas e escritores algarvios, ou que escreveram sobre o Algarve, dos princípios do século passado: João de Deus, Raul Brandão, Emiliano da Costa e Teixeira Gomes. A propósito deste último autor conversámos sobre o seu excelente conto “Gente Singular”, uma história mágica e verdadeiramente esotérica, passada no centro histórico da cidade de Faro. Uma história cheia de humor, inteligentemente anti-clerical, e de linguagem e conceitos modernos para a época. Nesta sequência, lembrei-me de quão pouca gente conhece este belíssimo autor, de origem portimonense, negociante de frutos secos e presidente da república entre 1921 e 1923. E de como seria importante a Missão Faro, Capital Nacional da Cultura, em 2005, promover um congresso sobre Manuel Teixeira Gomes, ao invés de o fazer sobre António Judeu da Silva “O Judeu”. A mania de fugir das figuras algarvias e procurar uma dimensão pseudo-nacional é uma prova de vera saloice, isso sim!
Entretanto, em conversa com o meu amigo Luís Guerreiro, fico a saber que a ministra da Cultura começa a colocar dúvidas ao formato das “Capitais da Cultura”. Ainda bem. Mais do que um programa para libertar energias criadoras nos agentes culturais regionais, ou mesmo lançar as bases de novas estruturas de produção cultural, as Missões servem, acima de tudo, para a promoção das políticas culturais de pequenos poderes autárquicos, quase sempre assentes na ausência de conhecimento real das qualidades culturais de cada região. Aliás o exemplo da Missão Faro, Capital Naconal da Cultura, 2005 é um excelente paradigma do que acabo de dizer. Sobre isso já tive oportunidade de escrever e de ser lido anteriormente. Espero, por isso, que a actual ministra tenha a coragem de mexer neste projecto.
Mas a minha maior surpresa ainda estava reservada no último número do «Algarve Académico», o jornal da Universidade do Algarve. Neste, o presidente da Missão “Faro, Capital Nacional da Cultura 2005” afirma que o projecto «procura integrar o Algarve nas redes de produção e difusão cultural de Portugal e do mundo». Presume-se que a ideia é o resultado do impacto do levante que se tem levantado de sueste até às escarpas de Sagres. Como se partíssemos, de novo num sonho de caravelas henriquinas, a conquistar os palcos e os escaparates de Madrid, Paris e Londres, ao invés da costa de África e dos cabos tormentosos. Melhor seria que fosse. Mas não é. Porque o projecto não passa de um conjunto de eventos efémeros – mais uns que outros – que não se enraizam na cultura regional, nem mobilizam os agentes culturais do Algarve. Um projecto que ambiciona “novos públicos” – um conceito tecnocrático em moda, que neste caso trata os algarvios como gente que assiste – e esquece os verdadeiros actores culturais da região: todos aqueles que durante todo o ano trabalham para produzir acção cultural com as populações locais e regionais. No fim de contas, a Missão desta capital cultural, como aliás as anteriores, será uma espécie de foguetório cultural que arderá depressa, deixando apenas um rasto de lembranças nos despojos da festa.
Entretanto, em conversa com o meu amigo Luís Guerreiro, fico a saber que a ministra da Cultura começa a colocar dúvidas ao formato das “Capitais da Cultura”. Ainda bem. Mais do que um programa para libertar energias criadoras nos agentes culturais regionais, ou mesmo lançar as bases de novas estruturas de produção cultural, as Missões servem, acima de tudo, para a promoção das políticas culturais de pequenos poderes autárquicos, quase sempre assentes na ausência de conhecimento real das qualidades culturais de cada região. Aliás o exemplo da Missão Faro, Capital Naconal da Cultura, 2005 é um excelente paradigma do que acabo de dizer. Sobre isso já tive oportunidade de escrever e de ser lido anteriormente. Espero, por isso, que a actual ministra tenha a coragem de mexer neste projecto.
Mas a minha maior surpresa ainda estava reservada no último número do «Algarve Académico», o jornal da Universidade do Algarve. Neste, o presidente da Missão “Faro, Capital Nacional da Cultura 2005” afirma que o projecto «procura integrar o Algarve nas redes de produção e difusão cultural de Portugal e do mundo». Presume-se que a ideia é o resultado do impacto do levante que se tem levantado de sueste até às escarpas de Sagres. Como se partíssemos, de novo num sonho de caravelas henriquinas, a conquistar os palcos e os escaparates de Madrid, Paris e Londres, ao invés da costa de África e dos cabos tormentosos. Melhor seria que fosse. Mas não é. Porque o projecto não passa de um conjunto de eventos efémeros – mais uns que outros – que não se enraizam na cultura regional, nem mobilizam os agentes culturais do Algarve. Um projecto que ambiciona “novos públicos” – um conceito tecnocrático em moda, que neste caso trata os algarvios como gente que assiste – e esquece os verdadeiros actores culturais da região: todos aqueles que durante todo o ano trabalham para produzir acção cultural com as populações locais e regionais. No fim de contas, a Missão desta capital cultural, como aliás as anteriores, será uma espécie de foguetório cultural que arderá depressa, deixando apenas um rasto de lembranças nos despojos da festa.
[coluna de «A Voz de Loulé» de 15 de Abril 05]