Conhecimentos nada obsoletos
José Carlos Fernandes (JCF) é de Loulé. Nasceu e vive por cá. Mas o que interessa, aqui, não é o facto de ser louletano. Não é só por ser louletano que é o que é. Isso deve-o a outro facto. Exactamente por ser um dos melhores autores de banda desenhada portugueses. E coloco a nacionalidade ali, no fim da frase, para torná-lo universal, pois se dissesse autores portugueses de banda desenhada estava a reduzi-lo a um cantinho que produz já mais BD do que a que é lida em Portugal. Estaria a reduzi-lo a uma escrita nacionalista, ou regionalista, coisa que a sua BD não é nem quer. Basta ler um livro qualquer de JCF para vislumbrar isso: uma visão do mundo, fora dos limites de Vilamoura ou da serra do Caldeirão, onde perpassam Jorge Luís Borges ou Mozart, Laurie Anderson ou Coltrane, o jazz e a filosofia, a monocultura da televisão, ou a veia sanguinolenta dos homens (e das mulheres). Mas são desenhos antitéticos, em que também perpassa a paz, uma flor na mão de um puto que procura algo, um aventureiro que por acaso é marinheiro que por acaso navega em Veneza, uma banda musical que prefere tocar as superfícies do mundo em vez de outras menos arrojadas pautas musicais.
JCF é pouco conhecido em Loulé. Também que interessa isso? É mais conhecido em Lisboa! JCF é pouco lido no Algarve. Também que importa isso? É muito lido em Barcelona e no Brasil. Se as raízes nos aguentam os pés, de pouco nos servem para quando precisamos de vaguear a alma por esse mundo, um desafio imenso, mesmo que seja um mundo de desenhos. Mas JCF não é, redutoramente, apenas um autor de banda desenhada. Ou melhor, para além de um excelente desenhador, esconde no meio dos desenhos os balões que nos trazem a música, a literatura, a filosofia. E também isso permite que ele seja um dos autores mais premiados em Portugal. E que recentemente tenha ganho mais um prémio, que não vi relatado em lado nenhum. Por estas terras do Algarve, entenda-se! No último Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora voltou a vencer o prémio de “Melhor argumento para álbum português”, com a sua obra «A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto» da série, já premiada, «A Pior Banda do Mundo». Uma obra de futuro que, tenho a certeza, nunca honrará o seu título. Algo que espero, todos esperamos, de José Carlos Fernandes. Parabéns amigo!
JCF é pouco conhecido em Loulé. Também que interessa isso? É mais conhecido em Lisboa! JCF é pouco lido no Algarve. Também que importa isso? É muito lido em Barcelona e no Brasil. Se as raízes nos aguentam os pés, de pouco nos servem para quando precisamos de vaguear a alma por esse mundo, um desafio imenso, mesmo que seja um mundo de desenhos. Mas JCF não é, redutoramente, apenas um autor de banda desenhada. Ou melhor, para além de um excelente desenhador, esconde no meio dos desenhos os balões que nos trazem a música, a literatura, a filosofia. E também isso permite que ele seja um dos autores mais premiados em Portugal. E que recentemente tenha ganho mais um prémio, que não vi relatado em lado nenhum. Por estas terras do Algarve, entenda-se! No último Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora voltou a vencer o prémio de “Melhor argumento para álbum português”, com a sua obra «A Grande Enciclopédia do Conhecimento Obsoleto» da série, já premiada, «A Pior Banda do Mundo». Uma obra de futuro que, tenho a certeza, nunca honrará o seu título. Algo que espero, todos esperamos, de José Carlos Fernandes. Parabéns amigo!
[coluna publicada em «A Voz de Loulé» de 1Dez.04]